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Gestão do rebanho pelo telefone

Gestão do rebanho pelo telefone

Aplicativo está sendo desenvolvido pela COMIGO para auxiliar o processo de gestão da propriedade

Por Samir Machado

Desde que surgiram e se tornaram populares os smartphones vêm ganhando cada vez mais espaço na vida das pessoas. Seja para a comunicação ou para trazer soluções nos mais diversos setores. Apesar do preconceito que ainda existe de que o homem do campo é aquela pessoa com baixo grau de instrução, distante da vida urbana e desprovido de aparatos tecnológicos, a realidade é bem diferente. Afinal, a tecnologia está presente em todos os aspectos de uma propriedade rural e agora vem ganhando espaço entre os aplicativos para celulares.  

Exemplo disso é o aplicativo Super-Pec, que a COMIGO está desenvolvendo para levar tecnologia a seus associados, há alguns meses. Assim que estiver pronto será oferecido aos cooperados pecuaristas como uma ferramenta importante de gestão, a princípio para a área do leite e depois também para a de corte (que também está começando a ser testado através do aplicativo Beef Plan).

O desenvolvimento do aplicativo para COMIGO está sendo realizado pela startup Esteio Gestão Agropecuária, um braço da empresa DINNI Soluções. De acordo com o seu sócio diretor, Gardiego Luiz da Silva, o aplicativo se encontra em fase de validação com alguns associados, esta ferramenta, assim que estiver disponível ao produtor, poderá organizar seu rebanho e sua produção, além de avaliar a saúde financeira de sua propriedade.

REBANHO

De acordo com Gardiego, o primeiro módulo desenvolvido foi o de Gestão do Rebanho, pensado na organização da propriedade para que ela funcione como uma empresa. “Começou com a organização do rebanho, cadastro de animais, gerenciamento de lotes, controle da saída de animais do rebanho, histórico e motivo da venda e morte de cada animal. Isto é importante para que o produtor possa saber se está havendo algum tipo de gargalo ou se os animais estão morrendo por causa de uma doença em uma época específica do ano, possibilitando esta identificação e tomada de decisão em conjunto com o técnico”, explicou ele.  

REPRODUÇÃO

Gardiego explicou que o segundo módulo desenvolvido foi o Reprodutivo. “Neste módulo o produtor pode inserir dados, analisar e observar informações sobre inseminação, diagnóstico de gestação, informações de parto e todo o controle reprodutivo do rebanho”, disse.

O terceiro módulo implantado foi o Produtivo, que trabalha com informações relacionadas à produção de leite, desaleitamento, início e fim da lactação, pesagem do animal, controle leiteiro para o cooperado avaliar como está a produção de cada animal, verificar a curva de lactação, relatórios de histórico de produção, produção por lote e outros que vão auxiliar o produtor no acompanhamento e comparação entre um animal e outro. Até mesmo avaliar o descarte de um ou outro animal, identificar as vacas que estão produzindo melhor. (*)

Acompanhando a qualidade do Leite

Estes três primeiros módulos já estão prontos e já estão sendo validados com alguns produtores, nas diversas cidades de atuação da Cooperativa. “Agora estamos implantando o quarto e o quinto módulo: Qualidade do Leite e Sanidade do Rebanho. Com o quarto módulo o produtor poderá acompanhar a qualidade do leite que está sendo produzido com relação a níveis de CCS, CBT e gordura. Com estes dados o produtor pode, por exemplo, saber se os níveis de CCS e de CBT estão altos e isso irá o ajudar a tomar decisões para melhorar a qualidade do leite. Sabemos que essa qualidade pode se reverter em pagamento de bonificação. Por isso é muito importante ter esse controle e fazer este acompanhamento para melhorar o seu produto”, destacou Gardiego.

SANIDADE

Sobre o quinto módulo, ele destacou a importância de se acompanhar o calendário das vacinas, quando e quais foram feitas em cada animal. “O aplicativo vai ajudar o produtor a se preparar para a realização das vacinas na época correta. O animal passa a ter uma ficha que vai conter cada um destes dados que falamos em cada módulo. Então o produtor vai ver toda a situação de cada animal de seu rebanho, desde sua árvore genealógica, bem como avaliar o rebanho como um todo ou por lotes”, relatou o diretor.

SAÚDE FINANCEIRA

Gardiego explicou que estes cinco primeiros módulos fazem parte do pacote de Controle Zootécnico. A ideia, segundo ele, é que o produtor conheça a saúde financeira de sua propriedade e desta forma consiga lucrar ou melhorar a margem de sua atividade.  Assim que todos os módulos forem implantados e testados será implementado um novo pacote de ferramentas: o Módulo Financeiro.

Nesta etapa, o produtor poderá fazer um verdadeiro acompanhamento do negócio do leite, de sua propriedade, analisar todas as informações financeiras de sua produção, fazer um inventário de seus animais e da terra, as receitas, despesas. Isto vai gerar relatórios de fluxo de caixa e indicadores de custo de produção. “O pecuarista poderá avaliar se está operando com lucro ou prejuízo. A nossa ideia é criar alguns indicadores e trabalhar com alguns conceitos de custos de produção, custos fixos e saber em que pé está a propriedade. Ter uma noção de o quanto está custando produzir o litro de leite, quanto ele está recebendo por este litro, se está cobrindo os seus custos e, se não tiver, que caminhos ele deve seguir. É claro que o produtor irá fazer sempre junto com seu técnico, para poder reduzir o custo e maximizar o lucro”, explicou.

Aplicativo ajudou dobrar a produção

O produtor Gilson Purcena da Silva, associado da COMIGO desde 1988, quando comprou a fazenda Sítio Toca do Coelho, de 76 hectares no município de Jandaia, é um dos que está testando o aplicativo Super-Pec, que a COMIGO está desenvolvendo. Ele conseguiu sair de uma produção de 450 litros/dia para 1.220 litros de leite por dia, retirados de 56 vacas, uma média de 21,78 litros por animal, tratados no pasto. 

Ele afirma que isso foi possível devido à gestão de dados do rebanho, que ele passou a fazer a partir do Super-Pec e nas decisões tomadas, com o suporte do veterinário da Cooperativa, Hemersonn Alexandre Rolim, baseadas na análise dos dados coletadas no aplicativo.  

Gilson, que é bancário aposentado, disse que a anotação zootécnica em pecuária de leite é fundamental. “Antes deste aplicativo a gente fazia a coisa aqui meio pelo rumo, sem uma ideia exata de quanto era a produção diária de cada animal, da árvore genealógica, da capacidade de produção. Eu não tinha anotação e não acompanhava quando uma vaca entrava em lactação e quando ela secava. Nessa época eu tirava cerca de 450 litros por dia. Com a utilização do aplicativo a gente começou a anotar esses dados, comecei a avaliar com o [Hemersonn] Alexandre, e passamos a dividir os animais em lotes, separamos os que produziam mais, melhoramos a alimentação deles. Depois separamos em três lotes e logo subimos para 700 litros por dia. Hoje estamos trabalhando com 4 lotes de animais, melhorando a genética do rebanho; trabalhamos só com as rações COMIGO e, de forma bem mais eficiente, conseguimos chegar a uma produção de 1.850 litros por dia, mas a média do mês é esta de 1.220 litros/dia. Estamos fazendo as coisas bem-feitas para dar certo e poder aumentar mais esta produção. Eu sei que minha produção atinge 9.450 litros de leite por hectares a cada ano. Informação que antes eu não fazia ideia”, explicou o cooperado.

MOBILIDADE

Ele contou que não é possível fazer todas as melhorias de uma só vez e por isso procura ir fazendo aos poucos. “Converso com o Alexandre, analisamos as informações, e vamos avaliando o que é possível fazer a cada momento. Os resultados também vão aparecendo junto. Antes eu não utilizava nenhuma ferramenta para acompanhar os dados do rebanho. Era difícil saber o quanto eu estava ganhando e muito mais ainda o quanto eu estava perdendo. Então vejo este aplicativo de forma muito positiva. Quem trabalha com ‘gente’ sabe que a informação pode não chegar até você com precisão. Com este sistema eu domino completamente o rebanho. Tenho informação precisa e o mais importante: onde eu estiver posso acessar os relatórios e as informações para apoiar minhas decisões”, comentou seu Gilson.

O cooperado falou da importância de se ter essas informações à mão em qualquer lugar e hora. “A grande maioria dos produtores não vive exclusivamente da atividade pecuária. Então quando você está mais ausente da propriedade, esses dados são fundamentais. Este aplicativo será uma grande ferramenta para muita gente, assim como está sendo para mim. Contudo, eu já adianto que a anotação do antigo caderninho precisa ser mantida, sem as anotações do caderninho o aplicativo por si só não adianta muito. São essas anotações do caderno que vão alimentar o sistema do Super-Pec, aí sim ele vai gerar os indicadores, relatórios e demais informações”, compartilhou. Segundo ele, a maior dificuldade que ainda esbarra é com o acesso à internet. “Tem dia que o sinal está ruim ou está fora do ar e não tem como alimentar o sistema, mas acredito que a internet rural está começando a melhorar de uma forma geral”, frisou. Contudo, os dados podem ser lançados off-line, sem conexão com a internet, e quando o sinal for possível ocorre a conexão e sincronização dos mesmos automaticamente.